quarta-feira, 15 de julho de 2009


Sobre marchas e relação de marchas:


Quantas marchas têm a bicicleta? 21 marchas = 7x3; portanto ela tem 7 velocidades atrás e 3 na frente. O que isto importa? Depende, mas geralmente muito pouco. Importante é que a relação de marchas (ou relação de velocidades) seja apropriada para o uso à que se destina e que o ciclista saiba como usá-las corretamente.

Quanto mais marchas melhor? Não necessariamente. É óbvio que, quanto maior o número de marchas, mais opções de velocidades o ciclista tem. Mas a grande maioria, incluindo aí alguns profissionais, não sabe usar bem as marchas e sua relação. Relembrando: o importante é uma relação de marchas para o uso que se destina, e não o número de marchas.

Uma boa relação de marchas está diretamente ligada a quem é o ciclista e onde ele irá pedalar. Ter 21 marchas num local plano não faz sentido porque as primeiras marchas, as mais reduzidas, servem para subir montanhas. Outro exemplo: uma pessoa não esportista passeando em local acidentado, necessita de uma relação que suavize muito as subidas, o que não é necessário para quem está treinado.

Atenção: para quase todas as bicicletas com câmbio vendidas no Brasil: as mudanças de marchas devem ser feitas sempre pedalando.

Acionadores manuais de câmbio:

1. mão direita para o câmbio traseiro, mão esquerda para câmbio dianteiro
2. quanto maior o número no indicador do acionador de câmbio, mais duro de pedalar fica, mais veloz a bicicleta vai
3. nos acionadores de câmbio que tem duas alavancas: a maior serve para amolecer o pedalar, a menor endurece o pedalar

Para quem não sabe mudar as marchas:

1. aprenda usando só o câmbio traseiro (mão direita)
2. esqueça o câmbio dianteiro por enquanto (mão esquerda)
3. só acione o câmbio pedalando!
4. não olhe para os números do acionador
5. sempre pedalando, brinque com o acionador para sentir a diferença
6. descubra o que acontece com as pernas cada vez que é acionado o câmbio
7. mude uma marcha por vez e descubra quando fica mais cômodo pedalar

O segredo é manter a velocidade média de giro da perna (cadência) o mais constante possível, mudando as marchas conforme a necessidade, exatamente como no uso do câmbio do carro. Suas pernas são o motor e há um momento correto para mudar as marchas: entre o girando demais e o forçando muito. No carro você não fica olhando para a alavanca de câmbio e pensando a cada vez que vai engatar uma marcha, então não faça isto na bicicleta. Automatize sua reação.

Não importa em que marcha está, nem o número aparece no visor, nem qual você acredita ser a marcha ideal para aquele trecho. O que importa, e interessa de verdade, é quem deve comandar as marchas: são suas pernas. Elas é que vão dizer se a pedalada deve ser mais pesada ou mais leve.

Câmbio traseiro:

1. aprenda a sentir as mudanças de seu ritmo de pedalada causadas pelas mudanças de inclinação ou vento do trajeto.
2. tente manter o pedalar entre 60 e 90 voltas por minuto (cadência)
3. quanto mais constante melhor, portanto, sempre que necessário, use o câmbio.
4. muda-se a marcha pedalando, de preferência diminuindo a força no pedal no exato momento da troca de marcha
5. câmbio traseiro aceita algum desaforo, mas seja sempre bem educado com ele
6. no começo é chato, depois fica automático

Câmbio dianteiro: (quando há mais de uma coroa junto aos pedais)

1. quando há 3 coroas (cambio dianteiro): a coroa do meio é para qualquer situação, a maior é para descidas ou velocidade, a menor é para subidas fortes
2. no acionador de câmbio esquerdo o número 1 é a coroa menor, o 2 é a do meio, e o 3 é a maior.
3. aprenda a usar o câmbio traseiro com a corrente na coroa do meio (número 2)
4. no caso de ter só duas coroas, use a menor.
5. só quando estiver firme no uso do câmbio traseiro é que se deve começar a usar o dianteiro
6. se tiver que fazer uma subida forte, e ainda não tem muita prática com o câmbio dianteiro,

mude a marcha para a coroa menor antes da subida.

Muito importante: câmbio dianteiro não engata sob pressão! Não importa se a bicicleta é barata ou uma caríssima profissional. Câmbio dianteiro não agüenta desaforo! É necessário suavizar a pedalada no momento da troca de marchas.

Usando todas as marchas: (para quem já tem facilidade com as marchas)

1. exemplo: a bicicleta tem 21 marchas, mas não tem 21 velocidades diferentes porque algumas marchas repetem a mesma relação de desmultiplicação (ou relação de velocidade)
2. mantenha a concentração nos músculos da perna
3. não troque a marcha baseado no que está vendo
4. pode haver um "buraco" na relação: numa marcha está muito duro e na marcha seguinte está muito mole. Você terá que optar ou por diminuir a velocidade ou por fazer mais força.
5. se passar da coroa do meio para a menor, endureça duas marcha no câmbio traseiro para manter uma continuidade na relação.
6. se passar da coroa do meio para a maior, amoleça duas marcha no câmbio traseiro para manter uma continuidade na relação.

Importante: evite cruzar a corrente; não engate coroa maior na frente com relação maior atrás, ou coroa menor na frente com relação menor atrás.

Nunca troque de marcha quando estiver pedalando em pé ou sem o apoio do selim.

Pedalando no plano:

1. sempre comece devagar para seu corpo se adaptar
2. gire o pedal entre 60 e 90 voltas por minuto.
3. não fique o tempo todo sentado no selim: use suas pernas como amortecedor
4. encontre um giro de pedal que é cômodo para o momento
5. mudar um pouco a cadência de tempo em tempo descansa
6. mesmo com pressa não saia feito louco ou vai pifar antes de chegar.

Pedalando na subida:

1. não é importante como você começa a subida; o importante é como você a termina
2. o psicológico cansa tanto ou mais que a própria subida
3. evite mudar a marcha antes de começar a subida
4. deixe a perna sentir a subida e só então reduza a marcha
5. reduzir uma marcha por vez, com calma, ajuda muito
6. estabilize sua respiração alongando os tempos de inalação
7. não olhe para cima, nem pense em quanto falta

Vento:

1. quanta poeira! Cadê meus óculos?
2. para que lado está o vento? ou a ida ou a volta vai ser complicada
3. conforme a velocidade do vento a coisa fica muito complicada
4. muito cuidado com vento de lufadas
5. cuidado ao sair de uma sombra de vento (um obstáculo que freia o vento)
6. pare a bicicleta ou evite pedalar com chuva e vento forte
7. pedalando em dois dá para revezar quem fica no vácuo (uma espécie de sombra de vento)
8. caminhão grande gera um deslocamento de ar suficiente para derrubar ou jogar o ciclista no meio da pista

Pedalando na descida:

1. controle a ansiedade que normalmente é mais perigosa que a descida
2. quanto mais relaxado melhor
3. braços e pernas dobrados e soltos
4. mãos firmes, mas não travadas
5. dois dedos nos manetes de freio
6. apóie o corpo nos pedais, tire o corpo do selim
7. se a descida for muito inclinada, jogue o corpo para trás
8. freie com os dois freios e evite travar a roda traseira
9. olhe para onde você tem que ir, nunca para onde você pensa que vai bater

Pedalando grandes distâncias:

1. um dia antes: beba bastante água e alimente-se com pratos leves e pouco gordurosos
2. tenha em mente: o negócio é completar a distância
3. comece com calma, num ritmo mais lento que o normal
4. deixe a musculatura soltar-se
5. enfrente as subidas num ritmo um pouco mais lento que o habitual
6. não desconte tudo na descida: pense na segurança!
7. beba água antes de sentir sede, sem se exceder.
8. mude sua posição na bicicleta com certa freqüência
9. mude sua cadência (ritmo de pedalada) de vez em quando
10. quanto menor o número de erros, mais fácil é chegar lá
11. alimente-se um pouco a cada hora com algo leve.
12. água de coco e bananas fazem milagres
13. um cafézinho expresso não faz mal, muito pelo contrário
14. experimente feijoada e cerveja no meio do pedal e irá arder no inferno!


Cansou, não deu? Não há vergonha em voltar de carona. Vergonha mesmo é se arrebentar para provar que consegue chegar lá de qualquer forma.

2 comentários:

  1. Estou pensando em voltar a pedalar, só de ler seus textos já me estimula muito!!!
    valeu

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  2. Pois então Fábio, A hora é essa, força e pé no pedal.

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